Em 2013, quando me formei em Jornalismo e tive que mudar para Campinas para trabalhar, ainda não tinha carro e usava o transporte coletivo diariamente. Nós mulheres não temos um segundo de paz nessa vida e quando se fala em transporte coletivo é luta atrás de luta. Eu sempre entrava no ônibus preparada para fazer escândalo caso surgisse situação de assédio. Ficava atenta por mim e pelas demais mulheres dentro dos ônibus.
Nunca fui vítima de abuso, mas sempre quando leio ou assisto notícias sobre algum caso, me entristeço. É impossível ficar indiferente.
O tempo vai passando e a gente entende que a cultura do estupro que existe no Brasil faz com que os casos não tenham hora e nem locais específicos. Existem vítimas que são atacadas de noite, outras de dia, com o sol radiante. O criminoso também não tem cara e perfil. Ele pode ser jovem, idoso, preto, branco, rico ou pobre. Infelizmente, o Brasil registra diversos casos de abuso com frequência e muitos acontecem dentro das casas das vítimas ou em outros locais que elas teoricamente deveriam estar seguras como, por exemplo, escolas.
Em Abuso - A cultura do estupro no Brasil, a jornalista Ana Paula Araújo explica as razões que levam o estupro a ser um crime tão comum no país. O livro foi publicado em 2020 pela editora Globo Livros. Para mim, foram 320 páginas difíceis de serem lidas. O conteúdo e texto de Ana são excelentes, mas as duras histórias apresentadas a cada capítulo cortavam o coração. Teve um momento que precisei parar. Dar um tempo. Deixei o livro na mesa e voltei semanas depois.
A jornalista levou quatro anos para investigar e escrever o livro. Visitou diversas cidades do país, conversou com vítimas, ouviu especialistas e pessoas que trabalham dando apoio para mulheres que viveram situações de violência e, inclusive, foi até em presídios conversar com criminosos envolvidos em casos de estupros.
Durante a grande reportagem trazida no livro, Ana se emociona em diversos momentos. Ela se sensibiliza com as vítimas e também demonstra raiva quando se depara com a frieza dos criminosos.
Escrever sobre crimes demanda muita pesquisa e estudo sobre as leis e a Ana trouxe esse conhecimento para o leitor. Durante o livro, a escritora mostra como a lei no Brasil foi se modificando ao longo dos anos, mesmo que de forma lenta, para trazer o máximo de justiça à vítima de violência.
Apesar disso, na prática nada é tão perfeito quanto a teoria e a jornalista trata no livro sobre as dificuldades de se fazer uma denúncia e o processo doloroso de julgamento da sociedade que as vítimas atravessam.
É uma leitura que ensina tecnicamente como é importante que as vítimas busquem apoio e reivindiquem direitos de atendimento em saúde e, mais ainda, mostra como cada vez mais é necessário que as nossas crianças sejam instruídas para que a sociedade melhore a cada dia.
Parece ser muito interessante mas não sei se tenho emocional para uma leitura pesada dessa.
ResponderExcluirBj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com
Nana, o livro de fato é pesado. Deixa a gente triste, mas por outro lado faz refletir sobre um tema extremamente relevante
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