Oi! Tudo bem?
Vou começar esse texto de maneira leve, como se fosse um bate papo, porque a ideia é justamente ficar pertinho de você que está lendo e tem interesse em saber como foi a minha transição capilar e como passei pelo big chop. Antes de mais nada, preciso deixar claro que esse texto é um relato pessoal e um registro dessa etapa da minha vida que quero deixar aqui no meu blog. É muito importante e fundamental que você procure um especialista antes de fazer qualquer procedimento no seu cabelo. Independentemente se eu estava de cabelo alisado, com trança ou natural, nunca fiz nada sem supervisão. Sempre busquei consultoria de pessoas especializadas no assunto. Recado dado. Agora vou retomar o assunto da mudança no cabelo.
Chegar na etapa de transição capilar não foi um processo rápido para mim. Levou anos, na verdade. Então, antes mesmo de contar como foi chegar nesse cabelo da foto acima que ilustra esse texto, vou escrever aqui para você como era a relação que eu tinha com o meu cabelo.
Tenho 29 anos e fiz escova progressiva dos 13 aos 28 anos. Ou seja, foram muuuitos anos fazendo alisamento e colocando química no cabelo. Até os 13 anos de idade eu sempre vivia de cabelo preso. Como ele é volumoso, usava trança, fazia coques, enfim, o cabelo ficava constantemente amarrado. Nesta época não existia referência e informação como há atualmente, então o cabelo crespo e cacheado sempre perdia espaço. O liso era referência. Para nós, mulheres de cabelo afro, sempre foi ensinado que era necessário prender o cabelo. Ainda bem que hoje as coisas mudaram e temos opções de produtos e referências para nos inspirarmos.
Na adolescência, porém, acompanhei a chegada da escova progressiva nos salões e percebi como o procedimento estava fazendo sucesso entre as mulheres. Tinha uma infinidade de propostas de alisamento no mercado e todas, sem exceção, ofereciam aquilo que até então eu não tinha alcançado com meu cabelo: liberdade.
Eu amei fazer esse ensaio fotográfico. Nessa época, como pode ver, usava progressiva no cabelo. |
Entrei nessa "onda" de escova progressiva e até os 28 anos de idade seguia todos os passos religiosamente. Meu cabelo cresce rápido e a cada três meses lá estava eu no salão novamente para viver o estica, puxa, esquenta, alisa. O resultado do cabelo até que me agradava. Curti por muitos anos ficar com os cabelos alisados, mas com o passar do tempo percebi que isso estava me deixando triste.
Não julgo quem faz alisamentos e por muitos anos esse processo foi uma solução pra mim, mas depois percebi que estava aprisionada numa rotina de cuidados com o cabelo que na verdade não me trazia liberdade. Dias de chuva, por exemplo, eram sempre chatos porque iriam bagunçar meu cabelo. Piscina, parque aquático ou praia nem era opção de passeio pra mim porque eu não poderia estragar os fios. Enfim, ficar refém de um cabelo liso que não me deixava fazer as coisas mais legais da vida foi me irritando. Fui perdendo a graça em fazer alisamento. Não estou dizendo que pessoas que fazem progressiva não podem ou não devem pegar chuva ou curtir piscina. Claro que podem! Mas é que no meu caso tudo isso era um transtorno porque bagunçava o cabelo.
Também passei a sentir desgosto por passar horas desconfortáveis no salão. Já estava enjoada de secador, chapinha, cheiro forte de produto e cabelo ressecando por causa de química. Toda fase de retocar a raiz do cabelo com a progressiva passou a ser chata.
Mas até isso acontecer levou muitos anos. Isso porque, querendo ou não, alisar o cabelo estava me trazendo certa comodidade no dia a dia. Eu levantava, penteava o cabelo e estava tudo certo. Mas custava caro ter essa comodidade. E nem estou falando de caro por causa de valores financeiros. Custava caro porque eu tinha que abrir mão de momentos legais. Ganhava por um lado, mas perdia por outros.
Enquanto acontecia esse turbilhão de sentimentos dentro de mim, a Sara, minha irmã - que até então também fazia alisamento - entrou em transição capilar. Ela cansou do alisamento, cortou o próprio cabelo e deixou crescer naturalmente. Foi uma etapa importante pra ela. A Sara fez tudo isso sozinha, apenas buscando referências e informações na internet. Sem saber, ela estava me ajudando. Ver a força dela com tudo isso foi o que me ajudou a tomar decisões. A luta e resistência dela inspiraram a minha caminhada.
No mês de maio de 2019 decidi parar de fazer progressiva. Já estava na fase de "retocar" a raiz do cabelo com novo alisamento, mas simplesmente abri mão. Na época, pensei assim "ah, deixa quieto, vou parar com isso". E de fato parei. O cabelo foi crescendo. Engraçado foi que na época da progressiva achava que ele crescia muito rápido. Quando entrei na transição, achei o ritmo de crescimento dele muito lento. Mas era tudo coisa da minha cabeça: o cabelo estava fazendo tudo do jeito dele, no tempo certo e eu é que estava com pressa! Com o tempo o cabelo foi ganhando crescimento e passei a ter que lidar com duas texturas: a parte natural, toda cacheada em cima, e a parte lisa embaixo, resultado de anos de alisamento.
Esse momento de duas texturas evidentes foi difícil porque até prender o cabelo para fazer rabo de cavalo já estava ficando complicado. De maio de 2019 até fevereiro de 2020 encarei essas duas texturas sem fazer nada. A Sara me ajudava fazendo hidratações em casa e eu mantinha o cabelo crescendo naturalmente. Não fazia escova e nem chapinha. Afinal, a ideia era não jogar mais calor no bichinho.
Plena na rede já com duas texturas no cabelo. Essa foto é de novembro de 2019. Perceba que a frente já começa a ficar "espetadinha", mas eu estava feliz pela decisão da transição |
Em março de 2020 eu decidi fazer tranças no cabelo. Foi um passo importante porque o cabelo estava crescendo e a diferença de textura estava gritante. Por outro lado, cortar ele nesse momento e fazer o big chop ainda era cedo. Isso porque o cabelo ficaria muuuito curto e eu poderia me frustrar se fizesse um corte muito curto. Fiz a trança justamente para aguentar o máximo de tempo possível sem cortar o cabelo. As tranças me ajudaram a encarar tudo com paciência, leveza e estilo. Curti muito essa fase de box braids. Para quem não sabe, box braids são aquelas tranças feitas desde a raiz do cabelo, que unem fibra sintética e cabelo natural.
Usei tranças de março a setembro de 2020. Foi um período muito bacana. Brinquei muito com as possibilidades e a cada mês estava com um modelo diferente de trança no cabelo. Fiz trança solta, boxeadora e nagô. Ameeei todas!
Em outubro, com a chegada das férias do trabalho, estava decidida a tirar as tranças e ver como o cabelo estava para eu fazer o big chop. Para a minha alegria, o bichinho já estava num comprimento muito bom e poderia cortar sem frustração.
Na quarta, dia 7 de outubro, liguei no Mix Mania Cabeleireiros - salão especializado em cachos e crespos em Campinas -, perguntei o valor do corte e qual a data disponível. A atendente passou as informações e disse que tinha horários já para o dia seguinte, na quinta, dia 8 de outubro. Agendei para 14h e lá fui fazer o corte. Chegando no local, fui atendida pela Edlaine Monteiro, cabeleireira especialista em cabelos afros e cacheados.
Ela conferiu o tamanho do meu cabelo e fez uma foto antes de cortar pra fazer a comparação após o corte e finalização. Foi muito bacana o atendimento porque ela ensinou a identificar a curvatura do meu cabelo e deu dicas de como cuidar no dia a dia.
Não saí de lá apenas com um corte de cabelo. Saí de lá com um black power muito bonito e diversas possibilidades de ter uma rotina mais leve, repleta de liberdade.
Estou muito feliz com essa etapa. Tudo aconteceu no tempo certo. Acredito que a transição não aconteceu nem cedo e nem tarde. Ela veio em uma fase da vida que estou preservando o autocuidado, amor próprio e autoconhecimento. Quando a gente está forte por dentro, fazer mudanças externas é mais simples.
Eu espero que de alguma forma esse texto ajude a inspirar você ou alguma pessoa do seu convívio! Tem mais dúvidas, curiosidades? Deixe o seu comentário aqui embaixo porque respondo tudo depois <3
Resumindo: muito amor a si mesma.
ResponderExcluirAmei como ficou seu cabelo. Amo vc
Que frase: Quando a gente está forte por dentro, fazer mudanças externas é mais simples.
Michel
Be, te amo tanto! Obrigada pela companhia e parceria nesta caminhada.
ExcluirHida, do céu, que black mais maravilhoso!
ResponderExcluirMeu cabelo cacheia, mas não fica assim. Eu sempre amei blacks desde que me entendo por gente, então queria ter tbm!
Acho que você está com um ar tão mais leve agora!
Imagino que a transição não seja fácil (eu nunca alisei, mas acompanhei várias transições de várias amigas), mas é muito legal ver que você conseguiu passar por ela!
Amei o post de verdade!
Um beijo,
Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
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